Toda a actividade humana deve ser purificada no mistério pascal

Da Constituição pastoral Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja no mundo contemporâneo
(Nn. 37-38) (Sec. XX)

  A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso, altamente proveitoso para o homem, encerra também uma grande tentação: uma vez perturbada a hierarquia dos valores e misturado o mal com o bem, os indivíduos e as colectividades só prestam atenção ao interesse próprio e esquecem o dos outros.
  Isto faz com que o mundo deixe de ser o lugar da verdadeira fraternidade e que o crescente poder da humanidade ameace destruir o próprio género humano.
  A quem pergunta como é possível superar esta situação miserável, os cristãos afi rmam que todas as actividades humanas, quotidianamente postas em perigo por causa da soberba e do egoísmo, precisam de ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e da ressurreição de Cristo.
  Resgatado por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas por Deus. Recebe-as de Deus, e considera-as e respeita-as como vindas da mão de Deus.
  Dando graças por elas ao seu divino Benfeitor, usando e gozando das criaturas em pobreza e liberdade de espírito, é introduzido na verdadeira posse do mundo, como quem nada tem e tudo possui: Tudo é vosso, vós sois de Cristo e Cristo é de Deus.
  O Verbo de Deus, por quem todas as coisas foram feitas, fazendo-Se homem e vivendo na terra dos homens, entrou na história do mundo como homem perfeito, assumindo-a e recapitulando- a em Si. Ele nos revela que Deus é amor e ao mesmo tempo nos ensina que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o mandamento novo do amor.
  E assim, aos que crêem no amor de Deus dá-lhes a certeza de que o caminho do amor está aberto para o homem e que o esforço por estabelecer a fraternidade universal não é uma utopia. Adverte, ao mesmo tempo, que esta caridade não se deve praticar somente nos grandes acontecimentos, mas, antes de mais, nas circunstâncias da vida quotidiana.
Sofrendo a morte por todos nós pecadores, Ele nos ensina com o seu exemplo que também nós devemos levar a cruz que a carne e o mundo impõem aos ombros dos que buscam a paz e a justiça.
  Constituído Senhor pela sua ressurreição, Cristo, a quem foi dado todo o poder no Céu e na terra, actua já pela virtude do seu Espírito nos corações dos homens, não só despertando neles o desejo da vida futura, mas também animando, purificando e fortalecendo aquelas generosas aspirações com que a humanidade procura tornar mais humana a sua própria vida e submeter a este fim a terra inteira.
  Os dons do Espírito são diversos: enquanto chama alguns a darem claro testemunho do desejo da pátria celeste e a conservarem-no vivo no meio da humanidade, chama outros ao serviço temporal dos homens, preparando com este seu ministério a matéria do reino dos Céus.
  Mas de todos faz homens livres para que, renunciando ao amor próprio e reunindo todas as energias terrestres em favor da vida humana, eles se lancem decididamente para os tempos futuros, em que a humanidade se tornará uma oblação agradável a Deus.

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