«Se retiver as águas, tudo secará; se as soltar, elas submergirão a terra» (Jb 12,15)

São Gregório Magno (c. 540-604) papa, doutor da Igreja
Livro XI, SC 212

«Se retiver as águas, tudo secará; se as soltar, elas submergirão a terra» (Jb 12,15). Entendamos por água a ciência da pregação, como está escrito: «As palavras da boca de um homem [sábio] são águas profundas, torrente transbordante, fonte de sabedoria» (Pr 18,4); se as águas forem retidas, tudo seca. Sim, tirai aos pregadores a ciência, e os corações que poderiam ter verdejado na esperança da eternidade murcham imediatamente, permanecendo na secura do desespero, apreciando o transitório, ignorando a esperança daquilo que subsiste. E se por água entendemos a graça do Espírito Santo, como diz a palavra da Verdade no Evangelho: «Quem acredita em Mim, como diz a Escritura, “do seu ventre brotarão rios de água viva”»; e o evangelista acrescenta: «Disse isto acerca do Espírito, que estavam prestes a receber os que nele acreditaram» (Jo 7,38-39), esta interpretação está claramente de acordo com as palavras de Job: «Se retiver as águas, tudo secará»; pois, se a graça do Espírito Santo for retirada ao espírito daquele que escuta a Palavra, a sua mente, que estava verde de esperança quando a ouviu, seca imediatamente. E falar, não de água, mas de águas, no plural, é recordar a graça dos sete dons espirituais, pois os dons que nos enchem são outras tantas águas que se derramam no nosso coração.

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