Religião e política se discutem sim, senhor!
É comum ouvir que religião e política não se discutem. Como consequência, as conversas entre as pessoas normalmente se reduzem ao nível, ou da banalidade, ou da fofoca. Mas será mesmo que esses tópicos devem ser silenciados em nome da boa convivência?
Às vezes, dizem que religião e política são tópicos que não deveriam ser discutidos com quem não temos intimidade. Logo, jamais se discute nada relevante, reduzindo a conversa entre desconhecidos ao nível da banalidade, no melhor dos casos, ou da fofoca, no pior. Ainda assim, o debate sobre religião e política na esfera pública é crucial para a vida de uma sociedade verdadeiramente livre. A razão para o silêncio pode ser o medo da “polícia do pensamento” ou o medo de ser indelicado. Qualquer que seja o motivo, o resultado é o sufocamento da livre discussão sobre duas das áreas mais importantes que governam a vida humana.
Para o cristão, religião e política são inseparáveis, por causa da inseparabilidade dos dois grandes mandamentos de Cristo: que amemos ao Senhor, nosso Deus, e ao nosso próximo. O objetivo dos “fundamentalistas seculares” de separar religião e política não é apenas uma afronta ao cristianismo, mas um esforço para banir os cristãos da vida política. Isso, porém, não é novidade. O fundamentalismo secular sempre foi intolerante com o cristianismo e sempre procurou excluir os cristãos da vida pública. Da perseguição da Igreja antiga, com o martírio de inúmeros cristãos, à Revolução Francesa e seu Grande Terror, passando pelo século XX e o extermínio de cristãos em campos de concentração do socialismo nacional e internacional, a intolerância do fundamentalismo secular tem crucificado de forma contínua o Corpo de Cristo, além de ter corrompido incessantemente o corpo político.

O fundamentalismo secular emprega meios malignos, que correspondem aos seus fins ignominiosos, sempre favorecendo o poder da mentira para promover seus objetivos e usando o engano e a prática obscura da propaganda. O duplipensar e a novilíngua orwellianos fazem parte da mentalidade e do vocabulário fundamentalista secular desde o início. Em nome da “trindade profana” da liberdade, igualdade e fraternidade, os revolucionários franceses e russos privaram os cristãos da liberdade em nome da liberdade; discriminaram-nos em nome da igualdade e mataram-nos em nome da fraternidade. Não é de estranhar, portanto, que a nova geração de fundamentalistas seculares seja intolerante com o cristianismo em nome da tolerância, ou que aprove o assassinato de nascituros em nome da liberdade.
No entanto, a maior hipocrisia do fundamentalismo não está no uso abusivo da linguagem, mas na insistência em excluir a religião da vida pública, embora ele mesmo seja uma religião. Se o teísmo é uma posição religiosa, o ateísmo também o é [1]. A afirmação dogmática de que Deus não existe ou de que Ele deveria ser excluído da vida humana é uma posição religiosa. Quer acreditemos ou não na existência de Deus, ela ocupa um lugar central; é a pedra de toque, a rocha conceitual na qual se baseiam todos os nossos pressupostos. Para o teísta, a presença real de Deus é o princípio determinante que está no coração da realidade; para o ateu, é a ausência verdadeira dEle. Nos dois casos, Deus é crucial e, portanto, está presente, embora de forma irônica no segundo.
É um fato que toda política tem raízes nos primeiros princípios da filosofia, dos quais os mais importantes são os pressupostos metafísicos que dizem respeito à existência ou não existência de Deus. Na verdade, como demonstra a história recente, a eliminação de Deus cria um vácuo que é preenchido por todos os tipos de disparates perigosos e mortais. A crença de Rousseau de que o homem não é naturalmente pecaminoso, isto é, de que não existe uma rebelião primordial contra Deus, provocou toda sorte de barbárie, sobretudo o já mencionado Grande Terror. As ideias radicais de Rousseau permearam a sociedade moderna, de modo mais geral, pelo desprezo generalizado à civilização. A sabedoria das eras e a herança dos sábios são descartadas com a arrogância da ignorância, e o homem moderno é assim reduzido a um dedicado seguidor de loucuras e modismos. O determinismo de Hegel, politizado por Marx, levou ao assassinato de milhões de pessoas no altar do progresso inalterável do homem em direção à ditadura do proletariado. O super-homem de Nietzsche, politizado por Hitler, levou à raça mestra dos nazistas e ao assassinato de milhões de pessoas no altar do orgulho racial.
A eliminação de Deus da política cria um vácuo que é preenchido por todos os tipos de disparates perigosos e mortais.
Como nos faz lembrar Richard Weaver, ideias têm consequências, e más ideias têm más consequências. E como Chesterton nunca cansou de nos dizer: quando as pessoas deixam de crer em Deus, não passam a acreditar em nada, mas em qualquer coisa. O “Nada” não existe, ao passo que Deus, sim, existe. Consequentemente, as pessoas podem crer em Deus, mas ninguém pode crer no nada. Um ateu não consegue ser simplesmente ateu; ele deve se tornar algo mais, que geralmente é algo pior. Quer Deus seja substituído pela impiedade de Marx, ou a de Nietzsche, ou a de Stalin, ou a de Hitler ou a de Margaret Sanger e a Planned Parenthood, o resultado será sempre o mesmo: o massacre de inocentes. Falemos sem rodeios: a ausência de Deus sempre leva à presença do mal.
As lições da história são suficientemente claras para qualquer um que tenha olhos para ver. A eliminação de Deus da esfera pública leva à construção de guilhotinas para substituí-lo. A separação agressiva entre religião e política leva ao mais mortal dos divórcios. A única alternativa à submissão de uma nação a Deus é a submissão de todas as nações a qualquer coisa. Que Deus nos livre de cair nas mãos de tamanha impiedade.
Notas
- Se por teísmo entendemos a posição filosófica que dá por verdadeira e racionalmente justificável a proposição “Deus é, ou existe”, então não se trata de uma postura em si mesma religiosa ou necessariamente baseada em alguma fé positiva, embora, é claro, dela se possam extrair consequências de natureza religiosa, moral, vital etc. Nesse sentido, podem considerar-se teístas pessoas de cultura e religiões tão distintas como Sócrates e São João Batista (Nota da Equipe CNP).
Joseph Pearce Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere, disponível em: padrepauloricardo.org