Procurai lendo, batei rezando, e entrareis contemplando!
Guigues o Cartuxo (1083-1136)prior da Grande Cartuxa
Carta sobre a vida contemplativa, 3, 6-7
A doçura da vida bem-aventurada é procurada na leitura, encontrada na meditação, pedida na oração e saboreada na contemplação. É por isso que o próprio Senhor diz: «Procurai e encontrareis, batei e abrir-se-vos-á» (Mt 7,7): procurai lendo, encontrareis meditando; batei rezando, entrareis contemplando. A leitura apresenta à boca uma espécie de alimento sólido, a meditação mastiga-o e tritura-o, a oração obtém o sentido do gosto, a contemplação é a própria doçura que deleita e restaura. A leitura alcança a casca, a meditação penetra no miolo, a oração exprime o desejo e a contemplação saboreia a doçura obtida. A mente vê que não pode alcançar por si mesma a tão desejada doçura no conhecimento e na experiência. Quanto mais profundo é o seu coração, mais distante lhe parece a altura de Deus; então humilha-se e refugia-se na oração. […] Refleti durante muito tempo no meu coração, e na minha meditação acendeu-se um fogo, o desejo de Te conhecer melhor; quando partes para mim o pão da Sagrada Escritura, revelas-Te nessa fração do pão (cf Lc 24,30-35). Quanto mais Te conheço, mais quero conhecer-Te, não apenas na casca da letra, mas no sabor da experiência. Não o peço, Senhor, em razão nos meus méritos, mas por causa da tua misericórdia. Com efeito, reconheço que sou pecador e indigno, mas «até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos» (Mt 15,27). Dá-me, pois, Senhor, o penhor da herança futura, ao menos uma gota de chuva celeste para saciar a minha sede, porque ardo de amor.