O sol da justiça: a Nova Lei no Templo
Santo Ambrósio (c. 340-397) bispo de Milão, doutor da Igreja
Carta 26, 11-20 ; PL 16, 1044-1046
Uma mulher culpada de adultério é levada pelos escribas e os fariseus à presença do Senhor Jesus. Eles formulam a acusação como traidores, de tal maneira que, se Jesus a absolver, dará a ideia de estar a violar a Lei; se a condenar, dará a impressão de ter alterado a razão da sua vinda, porque Ele veio para perdoar os pecados de todos. […] Enquanto eles falavam, Jesus, de cabeça baixa, escrevia na terra com um dedo. Vendo que eles esperavam uma resposta, levantou a cabeça e disse: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». Haverá coisa mais divina que este veredicto? Aquele que estiver sem pecado que castigue o pecador. Com efeito, como se pode tolerar que um homem condene o pecado de outro quando desculpa o seu próprio pecado? Não é certo que este se condena ainda mais ao condenar noutro o pecado que ele próprio comete? Jesus falou assim enquanto escrevia no chão. Porque o fazia? Era como se dissesse: «Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua?» (Lc 6,41). Ele escrevia no chão com o mesmo dedo com que havia redigido a Lei (cf Ex 31,18). Os pecadores serão inscritos na Terra e os justos no Céu, como Jesus disse aos discípulos: «Alegrai-vos antes porque os vossos nomes estão escritos no Céu» (Lc 10,20). Ao ouvirem Jesus, os fariseus «foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos». […] O evangelista tem razão em afirmar que eles saíram, pois estes homens não queriam estar com Cristo. Aquilo que se encontra no exterior do Templo é terra; no interior encontram-se os mistérios. O que eles procuravam nos ensinamentos divinos eram as folhas, não eram os frutos das árvores; eles viviam à sombra da Lei, e por isso não eram capazes de ver o sol da justiça (cf Mal 3,20).