«O Senhor é excelso e olha para o humilde, ao soberbo conhece-o de longe» (Sl 138,6)

Ludolfo de Saxe (c. 1300-1378)
dominicano, depois cartuxo de Estrasburgo
«Vida de Jesus», 2, 30

O fariseu do evangelho vangloriava-se, justificando-se a si próprio com orgulho, acusando os outros e julgando-se melhor do que eles […]; tudo sinais do orgulho que Deus conhece de longe (cf Sl 138,6), mas não perdoa. Longe de se acusar a si próprio, este homem autoelogia-se. Em vez de rezar a Deus, zomba daquele que O glorifica. E, quando agradece, não pensa nos dons de Deus, mas nos seus próprios méritos. O publicano, pelo contrário, mantinha-se a distância, sentindo humildemente que não era digno de se aproximar, e «nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao céu» por pudor, porque tinha consciência da sua indignidade de pecador, e o seu pecado impedia-o de olhar para o céu. A dor do arrependimento levava-o a bater no peito, onde encontrava a origem de todo o mal, e dizia humildemente: Vós, meu Deus, que tudo podeis, «tende compaixão de mim, que sou pecador». Esta autoacusação, esta confissão sem artifícios, valeu-lhe o perdão dos seus pecados. Deus conhece de longe estes sinais de humildade. […] Qual foi o fruto desta atitude? Deus perdoou ao publicano os pecados de que ele se acusava e o homem foi-se embora justificado. […] O fariseu presumia-se justo, mas o publicano era verdadeiramente justo. Aquele estava justificado aos seus próprios olhos pelas suas obras, enquanto este estava justificado diante de Deus pela sua fé. Aquele gloriava-se orgulhosamente dos seus bens, este reconhecia humildemente o seu mal. Mais vale um pecador humilde que um justo orgulhoso, porque, quando se humilha, o pecador deixa de o ser; e, quando o justo se torna orgulhoso, deixa de ser justo. Por isso, não nos devemos gloriar nas nossas obras, mas confiar humildemente na graça.

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