O mistério da vinha de Deus

São Bernardo (1091-1153) monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermão 30 sobre o Cântico dos Cânticos

Irmãos, se a vinha do Senhor é a Igreja, não é pequena prerrogativa ela ter estendido os seus limites a toda a Terra. […] Refiro-me à multidão dos primeiros crentes, de quem foi dito que tinham «um só coração e uma só alma» (At 4,32). […] Porque a perseguição não a arrancou tão brutalmente do solo que ela não voltasse a ser plantada noutros locais e alugada a outros vinhateiros, os quais, chegada a estação própria, a fizeram dar frutos. Ela não pereceu, mudou de solo. Melhor, ganhou em força e em difusão, como vinha bendita pelo Senhor. Erguei, pois, os olhos, irmãos, e vereis que «as montanhas cobriram-se com a sua sombra, e os seus ramos ultrapassaram os altos cedros. Estendia até ao mar as suas vergônteas e até ao rio os seus rebentos» (Sl 80,11-12). Não deve surpreender-nos que assim seja, pois ela é o edifício de Deus, o seu terreno de cultivo (cf 1Cor 3,9). É Ele que a torna fecunda, que a faz propagar-se, que a poda e a limpa, de modo que ela produza mais fruto. Ele não deixará ao abandono a cepa que a sua mão direita plantou (cf Sl 79,15); não abandonará a vinha cujos ramos são os apóstolos, cuja cepa é Jesus Cristo e de que Ele, o Pai, é o agricultor (cf Jo 15,1-5). Plantada na fé, ela mergulha as suas raízes na caridade; lavrada pela obediência, fertilizada pelas lágrimas do arrependimento, irrigada pela palavra dos pregadores, dela transborda um vinho que inspira a alegria e não a má conduta, um vinho cheio de doçura, que alegra verdadeiramente o coração do homem (cf Sl 103,15). […] Filha de Sião, consola-te a contemplar este grande mistério: não chores! Abre o teu coração para acolheres todas as nações da Terra!

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