Não há descanso para o amor

Privado do auxílio sobrenatural de Deus, o homem é moralmente impotente tanto para observar por longo tempo os Mandamentos da Lei quanto para realizar qualquer obra meritória da vida eterna.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
(Mc 3, 1-6)

Naquele tempo, Jesus entrou de novo na sinagoga. Havia ali um homem com a mão seca. Alguns o observavam para ver se haveria de curar em dia de sábado, para poderem acusá-lo. Jesus disse ao homem da mão seca: “Levanta-te e fica aqui no meio!” E perguntou-lhes: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” Mas eles nada disseram. Jesus, então, olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eram duros de coração; e disse ao homem: “Estende a mão”. Ele a estendeu e a mão ficou curada. Ao saírem, os fariseus com os partidários de Herodes, imediatamente tramaram, contra Jesus, a maneira como haveriam de matá-lo.

A cura do homem de mão seca se dá no contexto de mais um conflito entre Jesus e alguns de seus adversários, fariseus e mestres da Lei, que procuram sem descanso um motivo para acusá-lo. Cristo, que falava como quem tem autoridade, arrogando-se com justiça o título de Senhor do sábado, rompia sem falsos escrúpulos o descanso sabático, o que deixa transtornados os que, ainda aferrados à letra da Lei, se opõe à doutrina salvífica do Evangelho. Eis o sentido literal do texto que a Liturgia nos propõe hoje à reflexão. De um ponto de vista espiritual, no entanto, este episódio nos revela, sob a imagem da mão ressequida, a nossa incapacidade de amar e praticar o bem como convém à salvação. É só com o auxílio da graça de Cristo, sem o qual nada podemos fazer (cf. Jo 15, 5), que nos tornamos capazes de realizar aquelas obras de justiça que o Pai tanto deseja recompensar.

Privado, pois, do auxílio sobrenatural de Deus, o homem é moralmente impotente para observar por longo tempo os Mandamentos da Lei — que se resumem em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22, 34-40) —, não só de forma meritória, em ordem à vida eterna, mas nem mesmo quanto à substância dos preceitos. Eis por que tão cedo a Lei se tornou para os judeus um fardo a ser carregado com uma obediência puramente externa, sem as disposições interiores sem as quais nem o maior dos sacrifícios tem valor (cf. 1Cor 13, 1ss). Por isso, devemos hoje estender nossas mãos ressequidas a Cristo Jesus e, humilhados diante dele, confessar nossa incapacidade de amar como Ele ama e de fazer como convém o que Ele deseja. O Senhor, que tudo pode e nos ama mais do que imaginamos, olhará compadecido para a nossa paralisia e realizará o prodígio de fazer brotar do rochedo de nosso coração a água de uma caridade benigna, sofredora, generosa e paciente (cf. 1Cor 13, 4-7).

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Referência: padrepauloricardo.org

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