«Não devias, também tu, compadecer-te do teu companheiro?»
Em todas as fases da história, mas especialmente na época atual, a Igreja deve considerar como um dos seus principais deveres proclamar e introduzir na vida o mistério da misericórdia, revelado no mais alto grau em Jesus Cristo. Este mistério é, não só para a própria Igreja, como comunidade dos fiéis, mas também, em certo sentido, para todos os homens, uma fonte de vida diferente daquela que o homem é capaz de construir quando está exposto às forças prepotentes da tríplice concupiscência que nele operam. É precisamente em nome deste mistério que Cristo nos ensina a perdoar sempre. Quantas vezes repetimos as palavras da oração que Ele próprio nos ensinou, pedindo: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6,12), isto é, aos que são culpados em relação a nós! É realmente difícil expressar o valor profundo da atitude que tais palavras designam e inculcam; quantas coisas dizem a cada homem acerca do seu semelhante e também acerca de si próprio! A consciência de sermos devedores uns dos outros anda a par do apelo à solidariedade fraterna, que São Paulo exprimiu concisamente convidando-nos a suportar-nos «uns aos outros com caridade» (Ef 4,2). Que lição de humildade não está aqui encerrada, em relação ao homem, ao próximo e também a nós mesmos! Que escola de boa vontade para a vida comum de cada dia, nas várias condições da nossa existência!
São João Paulo II (1920-2005) papa – Encíclica «Dives in misericordia», § 14