Maria, a terra boa que dá fruto

Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157) abade cisterciense
2.º sermão para a Anunciação; SC 202

O Verbo, a Palavra de Deus, fez-Se carne e habitou entre nós (cf Jo 1,14). […] A Sabedoria de Deus (cf 1Cor 1,24) começou a construir para Si a morada (cf Prov 9,1) de um corpo como o nosso no seio da Virgem […]; sem cooperação de homem, tomou do corpo da Virgem a carne destinada à nossa redenção. E o Senhor dos exércitos está connosco (cf Sl 45,8) desde este dia, o Deus de Jacob é a nossa força, porque o Senhor tomou a nossa condição humana para que a glória habite na nossa terra (cf Sl 84,2). Sim, Senhor, Tu abençoaste a terra, a terra abençoada entre todas as mulheres (cf Lc 1,28). Tu difundiste a graça do Espírito Santo para que a nossa terra dê o fruto das suas entranhas (cf Sl 84,13) e para que, do orvalho descido dos céus sobre o seio virginal, germine o Salvador (cf Is 45,8). Esta terra tinha sido amaldiçoada por causa do Mentiroso (cf Jo 8,44) e, mesmo quando era trabalhada, dela nasciam espinhos e cardos para os herdeiros da maldição (cf Gn 3,17-18). Mas hoje a terra foi abençoada pela presença do Redentor, e produz para todos a remissão dos pecados e o fruto da vida, apagando nos filhos de Adão a marca da maldição original. Sim, ela é abençoada, esta terra absolutamente virgem que, sem ter sido tocada, nem cavada, nem semeada, fez germinar o Salvador apenas do orvalho do céu, e fornece aos homens o pão dos anjos, alimento de vida eterna. Esta terra não cultivada parecia estar descarnada, mas tinha oculta em si uma colheita abundante (cf Sl 77,25); parecia um deserto inabitado, mas era um paraíso de delícias. Sim, este lugar solitário era o jardim onde Deus encontrava toda a sua alegria.

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