«[Judas] aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo: “Mestre”. Então, deitaram-Lhe as mãos e prenderam-no» (Mc 14,45-46)

São Máximo de Turim (?-c. 420)bispo
Sermão 36; PL 57, 605

A paz é um dom da ressurreição de Cristo. E, no limiar da sua morte, Ele não hesitou em dar essa paz ao discípulo que O entregou: beijou o traidor como se beija um amigo fiel. Não penseis que o beijo que o Senhor deu a Judas Iscariotes foi inspirado por qualquer sentimento que não fosse a ternura. Cristo já sabia que Judas O trairia. Sabia o que significava esse beijo, que era normalmente um sinal de amor, e não Se furtou a ele. A amizade é assim mesmo: não recusa um último beijo àquele que vai morrer; não retira essa última prova de ternura aos entes queridos. Mas Jesus também esperava que esse gesto sobressaltasse Judas e que, espantado pela sua bondade, ele acabasse por não trair Aquele que o amava, por não entregar Aquele que o beijava. Assim, o beijo foi dado como um teste: se o reabilitasse, seria um laço de paz entre Jesus e o seu discípulo; mas, se Judas efetivamente O traísse, aquele beijo criminoso tornar-se-ia a sua própria acusação. O Senhor disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» (Lc 22,48) Onde está a conjura do inimigo? Onde se esconde a sua manha? Todos os segredos serão postos a descoberto. O traidor trai-se a si próprio antes de trair o seu mestre. Entregas o Filho do homem com um beijo? Feres com o selo do amor? Derramas sangue com um gesto de ternura? Trazes a morte com um sinal de paz? Diz-me, que amor é esse? Dás um beijo e ameaças? Esses beijos, pelos quais o servo trai o seu Senhor, o discípulo o seu mestre, o eleito o seu criador, esses beijos não são beijos, são veneno.

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