«Foi ter com eles de madrugada»
Santo Hilário (c. 315-367) bispo de Poitiers, doutor da Igreja
Comentário ao Evangelho de Mateus, 14, 13-14
«Jesus obrigou os discípulos a subir para o barco e a esperá-lo na outra margem, enquanto Ele despedia a multidão. Logo que a despediu, subiu a um monte, para orar a sós. Ao cair da tarde, estava ali sozinho» (Mt 14,22-23). Para dar a razão destes factos, é preciso distinguir os tempos. Ele está só à noite, evocando a sua solidão na hora da Paixão, quando o pânico dispersou todos os que O acompanhavam. Quando ordena aos seus discípulos que entrem no barco e atravessem o mar, enquanto Ele próprio despede as multidões e, uma vez despedidas, sobe a um monte, está a ordenar-lhes que estejam na Igreja e naveguem no mar, quer dizer, neste mundo, até que, retornando no dia da sua vinda gloriosa, Ele dê a salvação a todo o povo, que será o resto de Israel (cf Rom 11,5) […]; e esse povo dará graças a Deus seu Pai. […] Foi ter com eles na quarta vigília da noite […]: a primeira vigília foi a da Lei, a segunda a dos profetas, a terceira a da sua vinda corporal; a quarta será a do seu regresso glorioso. Mas Ele encontrará a Igreja decadente e cercada pelo espírito do anticristo e pela agitação deste mundo; pois Ele virá num momento de extrema ansiedade e de tormentos. […] Os discípulos estarão aterrorizados pela vinda do Senhor, temendo as imagens da realidade deformadas pelo anticristo e pelas ficções que se insinuam no olhar. Mas o Senhor, que é bom, falar-lhes-á imediatamente, afastará o seu medo e dir-lhes-á: «Sou Eu», dissipando, pela fé na sua vinda, o temor do naufrágio ameaçador.