EVANGELHO Mc 13, 33-37

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Acautelai-vos e vigiai, porque não sabeis quando chegará o momento. Será como um homem que partiu de viagem: ao deixar a sua casa, deu plenos poderes aos seus servos, atribuindo a cada um a sua tarefa, e mandou ao porteiro que vigiasse. Vigiai, portanto,visto que não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite,se ao cantar do galo, se de manhãzinha; não se dê o caso que, vindo inesperadamente, vos encontre a dormir. O que vos digo a vós, digo-o a todos: Vigiai!».

Todos os discípulos de Cristo receberam a responsabilidade sobre a sua casa. Ele, entregou aos seus discípulos a autoridade que garante a fidelidade ao evangelho. Compete a cada um cumprir na sua vida a missão de Cristo, na fidelidade ao evangelho, até que ele volte. Para isso, é necessário estar vigilante, acordado e atento, para não se deixar dormir.

Reflexão da Palavra

Israel afirma a sua filiação divina, porque o Senhor se assume como Pai deste povo. No versículo 8 deste capítulo 63 do profeta Isaías, é o Senhor quem diz “verdadeiramente este é o meu povo, filhos que não me renegarão”. Ao iniciar a confissão, o povo diz “Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor”.

Deus não é Pai como os patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob, fundadores do povo. Eles permanecem na memória do povo, mas Deus é quem está presente e os guarda “em todas as suas aflições”, o próprio Senhor “não foi um mensageiro nem um enviado que os redimiu, mas foi Ele em pessoa” (63,9). O Senhor é Pai e redentor.

Tendo em conta a proximidade de Deus e a sua proteção para com o povo, não se percebe porque é que o povo é pecador. Então, surge a pergunta “porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração?” Esta pergunta surge como uma forma de atirar para Deus a responsabilidade do pecado do povo. Porque é que Deus não impede o pecado?
Por outro lado, o povo reconhece que se afastou do caminho, mas entende que é Deus quem tem que vir. “Voltai, por amor”. O povo apela ao amor de Deus e suplica que volte, que rasgue os céus e desça. Pois não há outro “Deus, além de Vós, (que) fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam”.

O povo, porém, não pode reclamar o direito dos que “esperam” nem dos que “praticam a justiça”, porque pecou. Deus não vem por encontrar no povo a confiança e a justiça, pelo contrário, Deus oculta o seu rosto por causa do pecado “tínheis escondido o vosso rosto”.

Nesta situação o povo só pode servir-se de um argumento, “somos todos obra das vossas mãos”. Deus é responsável por tudo o que ele criou, “sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro”. Deus vem, não porque somos justos, mas por causa da fragilidade do povo que ele ama como Pai.

No seguimento do texto de Isaías, o salmo 79 recupera o convite ao Senhor para que venha. Trata-se de uma súplica ao Senhor, “Pastor de Israel”, como já vimos no XXVII domingo, para que volte atrás na sua indignação para com o povo que não deu os frutos esperados. O salmista apresenta a desgraça em que caiu o povo, eles que eram povo já não são povo, a vinha do Senhor foi devastada pelos inimigos, os animais selvagens. Por isso se implora o regresso do Senhor “e vinde em nosso auxílio”, “vinde de novo”, “fazei-nos viver”.

No início da carta aos coríntios, Paulo, após a saudação na qual recorda e deseja a graça e a paz que são dons de Deus concedidos àquela comunidade por intermédio de Jesus Cristo, desenvolve uma ação de graças por causa dos dons que Deus lhes concedeu. Desde logo, salienta o dom da Palavra, do qual derivam dons que Paulo vai desenvolver mais adiante, assim como o dom do conhecimento e o testemunho dado em favor de Cristo. Com estes dons, entende Paulo, não falta nada aos coríntios, de modo que podem esperar tranquilos “a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo” porque serão encontrados “irrepreensíveis no dia do Senhor”, porque o mesmo Senhor é fiel.

O evangelho de Marcos reforça a necessidade de ser encontrado irrepreensível quando o Senhor vier, usando para isso o tema da vigilância. Jesus alerta os seus discípulos para a importância de estar atento, vigilante, estar acordado, “acautelai-vos e vigiai”. Estas chamadas de atenção percorrem todo o capítulo 13 deste evangelho, porque procura responder à pergunta dos discípulos Pedro, Tiago, João e André, no versículo 4: “diz-nos quando será isso…?”. A resposta de Jesus é sempre “não sabeis” e “não sabe ninguém”. A parábola da figueira que antecede esta, apresenta a mesma incerteza “quanto a esse dia ou a essa hora, ninguém os conhece”.
Jesus repete insistentemente “acautelai-vos”, “tomai cuidado, “ficai atentos”, “vigiai”, e a razão é sempre a mesma, o Senhor virá, este Senhor é o “Filho do homem”, é o dono da “casa” que partiu de viagem, que entregou a vinha aos vinhateiros e que “delegou a autoridade nos seus servos”. Este Senhor há de voltar, mas ninguém sabe quando “se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se de manhãzinha”.

Os servos pertencem ao Senhor, são os “seus servos”. A quem ele delega a autoridade e “atribuiu a cada um a sua tarefa”, estabeleceu um de entre eles para ser “o porteiro” a quem “ordenou que vigiasse” para que o Senhor, quando vier, não encontre ninguém a dormir. É que a sua chegada será inesperada, sem aviso prévio. Embora aconteçam muitas coisas antes, descritas no início do capítulo 13, nem todas elas são sinal da chegada do Senhor.

A última parte da parábola é como uma conclusão. O Senhor partiu, deixou a sua autoridade, distribuiu as tarefas por todos, então só há uma atitude a tomar “vigiar”. A vigilância é uma ordem, insistente, bem vincada pela sua repetição e é para todos “o que vos digo a vós, digo-o a todos”.

Meditação da Palavra

Ao escutar a palavra deste domingo, o primeiro do Advento, percebe-se que o tema proposto é a necessidade de vigiar. A possibilidade de nos “desviarmos dos vossos caminhos” e de “endurecer o nosso coração”, para viver sem a referência a Deus, exige uma vigilância atenta.

A rebeldia apaga os sinais de Deus da nossa vida e esvazia-nos, tornando-nos como “folhas secas levadas pelo vento”, como “seres impuros”, como uma “veste imunda”, para usar as palavras de Isaías. Esta situação não é culpa de Deus como insinuam os Israelitas ao perguntarem: “porque nos deixais desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração?”. É fruto, sim, da falta de vigilância sobre nós mesmos, é decisão nossa e não de Deus.

Jesus, que nos conhece e sabe das nossas fragilidades, chama a atenção com uma exortação imperativa “acautelai-vos e vigiai”, como escutámos no evangelho.

As palavras de Jesus são uma resposta à pergunta dos apóstolos sobre o “quando” é que se vão cumprir as suas palavras proféticas sobre a Jerusalém e o seu templo.

Para Jesus, porém, o importante não é saber “quando”, mas a atitude dos seus discípulos durante o tempo de espera, o tempo entre a saída e o regresso do dono da casa.

A parábola contada por Jesus fala da Igreja, o dono da casa é Jesus e o tempo de espera é este em que vivemos, o tempo entre a ressurreição e a vinda do Senhor, os servos são os seus discípulos, o porteiro é Pedro, a autoridade que lhes foi delegada é o evangelho.

Neste tempo que é o nosso, a Igreja, especialista da noite, não pode dormir nem esmorecer na sua missão para que sejam encontrados irrepreensíveis aqueles que fomos enriquecidos com a graça recebida de Cristo, como diz Paulo aos coríntios. Pois com ela, com a graça de Cristo, recebemos todos os dons necessários, a palavra, o conhecimento e o testemunho de Cristo, para sermos firmes e permanecermos fiéis até ao fim.

A fidelidade pedida a todos em geral e ao porteiro em particular é o que deve preocupar os discípulos de Jesus. Não sabe o discípulo “quando” vem o Senhor, como não sabemos nós nem sabe ninguém, mas sabe, como nós, que “enquanto” ele não vem compete-lhe cumprir tudo o que lhe foi confiado como missão.

Durante este tempo, Pedro, o porteiro, e com ele os demais discípulos e todos os que estão em casa, deve estar vigilante para não deixar ninguém dormir e para não enganar nos sinais indicadores da chegada, nem na voz do Senhor, porque muito dirão “sou eu”.

Deixar-se dormir, esmorecer na vigilância, perder-se na rotina, é possível, sobretudo se a espera for longa, como acontece com o Israel da primeira leitura. Deus é o Pai de Israel, é o seu redentor, das suas mãos saíram todos as coisas, e “somos todos obra das vossas mãos”. Ele é um Deus sem concorrência, pois nenhum outro Deus vem ao encontro dos homens como ele. Sabendo isto, Israel desviou-se do caminho e endureceu o coração ao ponto de Deus se irritar e desviar o seu rosto para não ver o seu povo.
A Igreja, novo Israel, com Pedro à frente, é uma sentinela no mundo que vigia para dentro de casa despertando a todos e para fora reconhecendo no mundo os sinais do Senhor que vai chegar. O não saber em que dia e hora regressa o Senhor, não pode transformar-se no medo que paralisa nem na indiferença que descompromete, mas no compromisso para com todos os homens porque o alerta é para todos “o que vos digo a vós, digo-o a todos”.

Como sentinelas no meio da noite, nós, os cristãos, vivemos sempre atentos, vigilantes, para não sermos surpreendidos pela incerteza do tempo e do momento, nem perante a possibilidade de seguir por outros caminhos.

Como vigilantes, suplicamos continuamente ao Senhor que volte, que venha depressa, não porque nós merecemos, mas porque precisamos e porque ele nos ama. Não apenas porque somos obra das suas mãos, mas sobretudo porque somos fruto do seu amor.

No início deste Advento, tenhamos a coragem para pedir como o salmista “Pastor de Israel, escutai e vinde em nosso auxílio. Fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome”.

Rezar a Palavra

Sois o nosso Deus e o nosso Pai. Como Israel também nós, Igreja de Jesus Cristo, suplicamos que não tenhas em conta as nossas faltas. Volta para nós o teu rosto e seremos salvos. Ilumina este tempo de espera para que a noite se transforme em dia e podermos contemplar, no Natal que se aproxima, a manifestação da tua glória.

Compromisso semanal

Neste Advento a minha vigilância passa por meditar mais atentamente a palavra de cada domingo, fixando-me em algumas expressões ou palavras que mais me questionam.

Referência: aliturgia.com

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