Deus disse: «Façamos o ser humano à nossa imagem, à nossa semelhança» (Gn 1,26)
Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148)monge beneditino, depois cisterciense
Orações meditativas 1, 1-5; SC 324
«Oh que profunda é a riqueza, a sabedoria e a ciência de Deus! Como são insondáveis os seus juízos e incompreensíveis os seus caminhos! De facto, quem conheceu o pensamento do Senhor? Quem foi o seu conselheiro?» (Rm 11,33s-34). Tu, Senhor, tens compaixão de quem queres e tens piedade de quem queres. Não é, portanto, o homem que quer ou que corre, mas Tu, Senhor, que és misericordioso. Eis que o vaso de barro escapa à mão que o modelou […]; escapa-se da mão que o segura e que o transporta. […] Se lhe acontecer cair da tua mão, que desgraça a sua. Porque se quebraria […] em mil pedaços, ficaria reduzido a nada. Ele sabe-o e, pela tua graça, não cai. Tem compaixão, Senhor, tem compaixão: Tu deste-nos forma e somos barro (cf Jr 18,6; Gn 2,7). Até aqui, […] permanecemos firmes, até aqui, a tua mão poderosa transportou-nos; estamos suspensos dos teus três dedos, a fé, a esperança e a caridade, pelos quais susténs a massa da terra, a solidez da Santa Igreja. Tem compaixão, segura-nos; que a tua mão não nos deixe cair. Mergulha os nossos rins e o nosso coração no fogo do teu Espírito Santo (cf Sl 25,2); consolida o que formaste em nós, para que não nos desagreguemos e não fiquemos reduzidos ao barro que somos, ou a absolutamente nada. Por Ti e para Ti fomos criados, para Ti estamos voltados. Formaste-nos e modelaste-nos, reconhecemo-lo; adoramos e invocamos a sabedoria com que administras, a bondade e misericórdia com que conservas. Aperfeiçoa-nos, Tu, que nos fizeste; aperfeiçoa-nos até à plenitude da tua imagem e semelhança, segundo as quais nos formaste.