«Amarás o Senhor teu Deus. […] Amarás o teu próximo como a ti mesmo»
Santo Agostinho (354-430)
bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
De Trinitate, VIII, 12; PL 42-958B-959A
Vejamos com que intensidade o apóstolo João recomenda o amor fraterno: «Quem ama o seu irmão permanece na luz e não há nele ocasião de pecado» (1Jo 2,10). O apóstolo considera claramente que a perfeição da justiça é o amor aos irmãos, pois aquele em quem não há ocasião de pecado é perfeito. Mas parece ignorar o amor de Deus, o que só pode ser explicado pelo facto de o amor a Deus estar incluído na caridade fraterna. […] Quem não está em Deus não está na luz, porque «Deus é luz e nele não há trevas» (1Jo 1,5). Não admira, pois, que aquele que não está na luz não veja a luz, ou seja, não veja a Deus, uma vez que está nas trevas; vê o seu irmão com uma visão humana, que não lhe permite ver a Deus. Em contrapartida, se amasse o seu irmão, que vê com olhos humanos, com amor espiritual, veria a Deus, que é o próprio amor, com a visão interior. Assim, pois, quem não ama o seu irmão, que vê, não pode amar a Deus, que não vê, porque Deus é amor, e esse amor falta àquele que não ama o seu irmão. A questão já não é saber que caridade devemos ao nosso irmão e que caridade devemos a Deus, pois devemos incomparavelmente mais a Deus do que a nós, e tanto aos nossos irmãos como a nós; ora, nós amamo-nos tanto mais quanto mais amamos a Deus. Assim, pois, amamos a Deus e ao próximo com o mesmo amor; mas amamos a Deus por Si mesmo, e amamo-nos a nós e ao próximo por Deus.