«Alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no Céu»
São João Cassiano (c. 360-435)fundador de mosteiro em Marselha
«Sobre os carismas divinos», cap. VII-IX, SC 54
A humildade é a mestra de todas as virtudes, o alicerce inabalável do edifício celeste, o dom próprio e magnífico do Salvador. Aquele que procura imitar o doce Senhor não na sublimidade dos seus prodígios, mas na virtude da paciência e da humildade, poderá realizar todos os milagres que o Senhor operou sem correr o risco de se exaltar. […] Se alguém realizar um prodígio na nossa presença, não é a maravilha dos sinais que deve tornar o autor estimado aos nossos olhos, mas apenas a beleza da sua vida. O que devemos perguntar não é se os demónios lhe estão sujeitos, mas se ele possui os membros da caridade que o Apóstolo enumera. Assim, é milagre maior extirpar a concupiscência da própria carne do que expulsar espíritos imundos do corpo de outrem; é sinal mais notável conter, pela virtude da paciência, os movimentos selvagens da cólera do que dominar as potências do ar. É mais excluir do próprio coração as mordidas devoradoras da tristeza do que afugentar dos outros as doenças e febres corporais. Enfim, é, sob muitos aspetos, virtude mais nobre e progresso mais sublime curar a languidez da própria alma do que a do corpo alheio. Quanto mais a alma está acima da carne, tanto mais preferível é a sua salvação; quanto mais a sua substância prevalece em excelência e preço, tanto mais grave e funesta seria a sua ruína. Das curas corporais, foi dito aos bem-aventurados apóstolos: «Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem»; pois não era o seu poder que operava esses prodígios, mas a virtude do nome que invocavam. É por isso que são advertidos a não reivindicar bem-aventurança nem glória por aquilo que só é realizado pelo poder e pela virtude de Deus, mas apenas pela pureza íntima da sua vida e do seu coração, que merece que os seus nomes estejam escritos no Céu.