«Aí vem o esposo; ide ao seu encontro»
Meu Deus, minha suave noite, quando chegar para mim a noite desta vida, faz que adormeça docemente em Ti, e experimente esse feliz descanso que preparaste para os que Te são queridos. Que o olhar calmo e gracioso do teu amor ordene e disponha com bondade os preparativos para as minhas núpcias. Que a abundância da tua bondade cubra […] a pobreza da minha vida indigna; que a minha alma habite nas delícias da tua caridade, numa confiança profunda. Ó amor, sê para mim uma noite tão bela que a minha alma diga ao meu corpo, com júbilo e alegria, um suave adeus, e que o meu espírito, regressando ao Senhor, repouse em paz à tua sombra. Então dir-me-ás claramente […]: «Aí vem o esposo: une-te a Ele mais intimamente, a fim de te deleitares com a glória do seu rosto». […] Quando, quando Te mostrarás, para que Te veja e acorra com deleite a essa fonte viva que és Tu, meu Deus? (cf Is 12,3) Então beberei, inebriar-me-ei na abundância da doçura dessa fonte viva que brota das delícias da face daquele que a minha alma deseja (cf Sl 41,3). Ó doce presença, quando me preencherás de Ti? Então entrarei no santuário admirável e contemplarei a Deus (cf Sl 41,5); para já, estou apenas à entrada, e o meu coração geme pela duração deste exílio. Quando me saciarás de alegria com a tua suave presença? (cf Sl 15,11) Então contemplarei e abraçarei o verdadeiro Esposo da minha alma, o meu Jesus. […] Aí, conhecer-me-ei como sou conhecido (cf 1Cor 13,12), amarei como sou amado, e ver-Te-ei, meu Deus, tal como és (cf 1Jo 3,2), na tua visão, no teu gozo e na tua bem-aventurada posse para sempre.
Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301) monja beneditina – Exercícios V, SC 127