A Igreja mantém-se humildemente na verdade

São Gregório Magno (c. 540-604)papa, doutor da Igreja
Livro XIV, SC 212

«Sim, mesmo que eu seja ignorante, a minha ignorância está comigo» (Jb 19,4). É próprio dos hereges ensoberbecerem-se com a vã arrogância da sua ciência, escarnecendo da simplicidade de uma fé reta e julgando a vida dos humildes desprovida de mérito. Pelo contrário, a Santa Igreja abaixa humildemente a cabeça diante de qualquer verdade que a sua verdadeira sabedoria alcança, evitando a jactância da ciência, a fatuidade da investigação dos mistérios e a presunção de sondar problemas que estão para além das suas forças; de facto, tem por mais útil aplicar-se a ignorar o que não pode compreender do que a definir descaradamente o que não sabe. Por outro lado, diz-se que quem é por nós está connosco e, inversamente, quem é contra nós não está connosco. Como, portanto, o coração do herege se ensoberbece com o seu saber e o do fiel se humilha com o sentimento da sua ignorância, o bem-aventurado Job pode dizer em seu nome, mas também de acordo com a Igreja universal: «Mesmo que eu seja ignorante, a minha ignorância está comigo»; que é o mesmo que dizer claramente aos hereges: a vossa ciência não está convosco, está contra vós, porque vos instala num orgulho insensato, mas a minha ignorância está comigo, é a meu favor, pois, longe de ter a audácia orgulhosa de investigar a Deus, mantenho-me humildemente na verdade.

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