A esperança da nossa ressurreição
São Gregório Magno (c. 540-604)papa, doutor da Igreja
Livro XIV, SC 212
Eis que, pela morte da carne, nós permaneceremos no pó até ao fim do mundo; Ele [o nosso Redentor], porém, ao terceiro dia, libertado da secura da morte, está na sua verde frescura, para nos mostrar o poder da sua divindade pela renovação da sua própria carne. […] Se é verdade que o corpo do Senhor está vivo agora, depois da sua morte, para o nosso corpo, a glória da ressurreição é adiada até ao fim do mundo. Job teve o cuidado de assinalar este distanciamento, dizendo: «E eu ressuscitarei da terra no último dia» (Jb 19,25). Temos, pois, a esperança da nossa ressurreição, porque estamos em presença da glória da nossa Cabeça. Não se diga, nem sequer interiormente, que, se o Senhor ressuscitou da morte, é porque, sendo Deus e homem numa só e mesma pessoa, venceu, pela sua divindade, a morte que sofreu na sua humanidade, mas que nós, que somos apenas homens, não podemos ressuscitar de uma sentença de morte. Pois acontece que, na hora da sua ressurreição, também ressuscitaram os corpos de muitos santos. O Senhor quis mostrar-nos o exemplo da ressurreição em Si mesmo, mas também quis mostrar-nos o exemplo de outros seres semelhantes a nós na sua natureza puramente humana, para nos tornar fortes perante a ressurreição. Era necessário que o homem, no seu desespero de nunca vir a receber um dom que o Homem Deus tinha manifestado em Si mesmo, ousasse acreditar que o que via nos outros, cuja natureza ele sabia sem sombra de dúvida ser puramente humana, podia também acontecer nele.