«Estai vós também preparados»

 Beato John Henry Newman
Waiting for Christ, PPS, t. 6, n°17

«Eis que venho como um ladrão. Feliz aquele que vigia e protege as suas vestes», diz o Senhor (Ap 16,15). […] Quando Cristo diz que a sua vinda está para breve, mas que contudo chegará de súbito, de modo inesperado, está a dizer que essa espera nos parecerá longa. […] Porque será que o cristianismo fraqueja incessantemente e, no entanto, perdura? Apenas Deus o sabe. Ele quere-o assim, é um facto; e não é paradoxal afirmar que este tempo da Igreja durou quase dois mil anos, que pode durar ainda muito e que, no entanto, caminha para o seu fim, que pode mesmo terminar num dia qualquer. E o Senhor quer que estejamos virados com todo o nosso ser para a iminência do seu regresso; trata-se de vivermos como se aquilo que pode acontecer a qualquer momento fosse acontecer durante a nossa vida.

Antes da chegada de Cristo, o tempo decorria de outra forma: o Salvador iria chegar e trazer a perfeição; e a religião encaminhava-se para essa perfeição. As revelações sucediam-se […]; o tempo era medido pela palavra dos profetas, que se sucediam. […] O povo da Aliança não O esperava para breve, mas para depois da estadia em Canaã e do cativeiro no Egito, após o êxodo no deserto, os juízes e os reis, no termo dos prazos fixados para O introduzir neste mundo. Esses prazos eram reconhecidos e as sucessivas revelações preenchiam essa espera.

Mas, uma vez Cristo chegado, como o Filho à sua própria casa, com o seu Evangelho perfeito, nada falta completar a não ser a reunião dos seus santos. Nenhuma doutrina mais perfeita pode ser revelada. Surgiu a luz e a vida dos homens; Cristo morreu e ressuscitou. Nada mais há fazer […]; por conseguinte, o fim dos tempos chegou. Além disso, embora deva existir um certo intervalo entre a primeira e a última chegada de Cristo, doravante o tempo já não conta. […] O tempo já não caminha para o fim, antes caminha a seu lado, sempre tão perto dele como se tendesse para ele. […] Cristo está sempre à nossa porta, tão próximo hoje como há dezoito séculos, e não mais próximo do que nessa altura, nem mais próximo do que quando vier.

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