Os vínculos da caridade

Do Diálogo de Santa Catarina de Sena, virgem, sobre a divina providência
(4, 13: ed. latina, Ingolstadt 1583, ff. 19v-20) (Sec. XIV)

   Volvei benignamente, Senhor, o vosso olhar de misericórdia sobre este povo e sobre o corpo místico da Santa Igreja; porque será muito maior a glória do vosso santo nome se Vos compadeceis da imensa multidão das vossas criaturas, do que se Vos compadeceis só de mim, miserável pecadora, que tanto ofendi a vossa majestade. Que consolação poderia eu ter na vida, vendo o vosso povo na morte? Que consolação poderia ter, se, pelos meus pecados e os das outras criaturas, visse envolta nas trevas a Igreja, vossa amada Esposa?
   Peço‑Vos instantemente esta graça singular da vossa misericórdia, por aquele amor incriado que Vos moveu a criar o homem à vossa imagem e semelhança. Qual foi a razão de terdes elevado o homem a tão alta dignidade? Foi certamente o incomparável amor com que Vos contemplastes a Vós mesmo na vossa criatura e Vos enamorastes dela. Mas reconheço claramente que pela culpa do seu pecado perdeu merecidamente a dignidade a que a tínheis elevado.
   Movido pelo mesmo amor, quisestes oferecer gratuitamente ao género humano a reconciliação convosco; e por isso nos destes o Verbo, o vosso Filho Unigénito, para que Ele fosse o advogado e medianeiro entre Vós e os homens. Ele foi a nossa justiça, levando sobre Si e castigando em Si todas as nossas injustiças e iniquidades, pela obediência que Vós, eterno Pai, Lhe impusestes, ao decretar que Ele assumisse a nossa humanidade. Oh incomparável abismo de caridade! Haverá coração tão duro que fique insensível e não se comova, ao ver como a sublimidade divina desceu à profunda baixeza da nossa condição humana?
   Nós somos vossa imagem e Vós imagem nossa, pela união que realizastes no homem, escondendo a eterna divindade sob a nuvem miserável da humanidade corrompida de Adão. E porquê? O único motivo é o vosso inefável amor. Por este amor incomparável, com todas as forças da minha alma Vos peço que olheis misericordiosamente para estas vossas miseráveis criaturas.

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