Glorificar o Pai no Filho
Os céus, o ar, a terra, os mares estão revestidos de esplendor, e o cosmos deve o seu nome à sua magnífica harmonia. Apreciamos essa beleza das coisas de forma instintiva e natural, mas a palavra que a exprime é sempre inferior ao que a nossa inteligência captou. Por maioria de razão, o Senhor da beleza está acima de toda a beleza; e, se a nossa inteligência não pode conceber o seu esplendor eterno, conserva, no entanto, a ideia do esplendor. Devemos, portanto, confessar um Deus cuja beleza é inconcebível para a nossa mente, mas que não podemos alcançar sem Ele. Esta é a verdade do mistério de Deus, da natureza impenetrável do Pai. Deus é invisível, inefável, infinito. As palavras mais eloquentes não podem senão calar; a inteligência que quer penetrar neste mistério sente-se entorpecida, sente a sua estreiteza. Mas é em nome do Pai, como já dissemos, que temos a sua verdadeira natureza: ele é Pai; mas não o é como os homens são, pois é incriado, eterno, e permanece sempre e para sempre. Só o Filho é conhecido, pois «ninguém sabe o que é […] o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar». Eles conhecem-Se mutuamente e o seu conhecimento mútuo é perfeito. E, porque ninguém conhece o Pai senão o Filho, é com o Filho, única testemunha fiel, que devemos aprender a conhecer o Pai. Mas é mais fácil para mim pensar isto do Pai do que dizê-lo, e sinto que todas as palavras são impotentes para exprimir o que Ele é. […] O conhecimento perfeito de Deus à nossa escala humana consiste, portanto, em saber que Deus existe, que não pode ser ignorado, mas que permanece inexprimível e indizível. Acreditemos nele, procuremos compreendê-lo, esforcemo-nos por adorá-lo; este louvor é o testemunho que podemos prestar-Lhe.
Santo Hilário (c. 315-367) bispo de Poitiers, doutor da Igreja – De Trinitate, 1, 7; 2, 6-7; PL 10, 30